Mais de 60% dos órgãos destinados a transplantes são recusados pelas equipes médicas que fazem essas cirurgias. De acordo com um estudo do Ministério da Saúde e da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), de Brasília, com base em dados da Central Nacional de Transplantes (CNT), dos 22.824 órgãos disponíveis entre 2014 e 2021, 14.341 não foram aproveitados.
Apesar dos problemas logísticos representarem apenas 6% do total de recusas, o desafio para manter os órgãos em condições adequadas, da origem ao destino, ainda é grande, principalmente em um país com dimensões continentais como o Brasil. Segundo as normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o controle de temperatura e vibrações deve ser rigoroso nestes casos. A Resolução nº 66/2009 (artigo 29) estabelece que as embalagens “devem ser montadas de forma que, fechadas, previnam perda de conteúdo devido às condições de transporte, seja por vibração, mudanças de temperatura ambiente, umidade ou pressão”.
A logística de transplantes é complexa porque cada órgão conta com um Tempo de Isquemia Fria (TIF) – período em que pode ficar sem circulação sanguínea. O coração, por exemplo, tem o menor TIF, enquanto os rins podem ficar até 24 horas sem serem irrigados. No entanto, em todos esses casos, o transporte precisa ocorrer em uma caixa térmica que mantenha temperaturas entre 2 e 8°C. Se cair abaixo disso, o órgão pode congelar, inviabilizando o transplante. O descarte pode ocorrer ainda se a temperatura ficar acima do limite. Além disso, impactos ou vibrações na caixa também podem danificar o órgão.
Essas condições específicas fazem com que a logística de transplante de órgãos tenha semelhanças com outras operações da chamada cadeia fria de suprimentos. “Produtos como carnes, frutas, vegetais, remédios e os órgãos para transplante precisam manter a temperatura baixa no processo de transporte e, em alguns casos, armazenagem. Além disso, apresentam uma variação da qualidade com o tempo, mesmo sob condições ótimas de distribuição”, apontam as pesquisadoras Isabela Chaves Alves e Níssia Carvalho Rosa Bergiante, da Universidade Federal Fluminense, em estudo apresentado em 2021 (página 8).
“Além de envolver o transporte, a logística do transplante de órgãos também inclui o acondicionamento e armazenagem dos enxertos doados. Tais fatores estão diretamente relacionados com a característica de perecibilidade dos órgãos e da conservação em soluções de preservação dentro do tempo limite determinado pelo tempo de isquemia”, completam as pesquisadoras (página 10).
Alguns dispositivos de monitoramento de temperatura, vibrações e impacto, utilizados em operações logísticas de produtos perecíveis ou sensíveis, também são adotados nos processos de armazenagem e transporte de órgãos para transplante. “Nesses casos podem ser úteis três modelos de controle: os indicadores de temperatura, que marcam a temperatura mínima e máxima alcançada durante o transporte; os indicadores de impacto, que apontam se a carga sofreu algum choque na viagem; e o registradores de impacto, que monitoram até as vibrações sofrida pela embalagem, em tempo real”, explica Afonso Moreira, CEO da AHM Solution, empresa especializada em controle de riscos e danos em operações logísticas.
Segundo Moreira, todos esses dispositivos garantem que os órgãos foram acondicionados e transportados em condições adequadas para o transplante. “Isso pode reduzir drasticamente os casos de recusas de órgãos por falta de condições ideais e, consequentemente, salvar vidas”, conclui.
Mais informações: https://www.ahmsolution.com.br/